Sistema de armazenagem no Brasil

O sistema de armazenagem é um dos grandes problemas da logística, não apenas para indústrias ou estabelecimentos comerciais, mas também assunto que deve ser tratado nas esferas governamentais que tratam das questões de logística.

Enquanto as indústrias e o comércio conseguem, muitas vezes com altos custos, manter um sistema de armazenagem condizente com as operações, tratando-se de um problema da iniciativa privada, o Brasil deve voltar-se para o sistema de armazenagem de grãos, um dos maiores problemas enfrentados pelo setor mais produtivo e o que mais exporta.

Os portos brasileiros mostram-se, atualmente, como um dos principais gargalos da produção agrícola. A partir de determinado momento da colheita, todos os anos, as estradas que levam aos portos costumam ficar cheias de filas de caminhões de grãos produzidos nas principais regiões agrícolas, esperando o momento de descarregar nos armazéns e nos navios, mostrando um retrato interessante do interior: se os agricultores estão preocupados em enviar rapidamente sua produção para os portos, é sinal de que o sistema de armazenagem nas áreas produtivas ainda é falho.

O sistema de armazenagem não dispõe de silos próximos às áreas produtivas que sejam suficientes para o armazenamento dos grãos para mandar aos poucos para os portos, obrigando os produtores a carregar, muitas vezes, diretamente nos caminhões, enviando para o destino final e arcando com custos cada vez maiores de frete e pedágio, ou seja: o Brasil utiliza um sistema de armazenagem sobre rodas e não como deveria ser, nos silos, à espera do momento certo para a entrega.

A necessidade de ampliação do sistema de armazenagem

A situação da produção agrícola se repete ano após ano, com centenas de caminhões cruzando as estradas carregados de grãos, sempre no período da safra, provocando riscos de acidentes devido às condições das rodovias nacionais.

O sistema de armazenagem é quem deveria arcar com os estoques de grãos, evitando todos os problemas de gestão de logística, trazendo à tona o grande problema de infraestrutura que, afinal, é algo que deve ser resolvido não pelos agricultores, mas sim pelo governo, já que está na esfera de políticas públicas.

Para uma comparação básica, podemos usar como parâmetro o sistema de armazenagem nos Estados Unidos, que é extremamente eficiente e que não provoca os gargalos que vemos no Brasil. Tudo não passa de uma questão de planejamento, nos Estados Unidos, enquanto no Brasil temos a falta de planejamento.

O sistema de armazenagem nos Estados Unidos foi criado juntamente com as ferrovias, instalando-se silos e armazéns nas próprias estações, de onde eram recolhidos pelos trens e levados com mais facilidade para os grandes centros, onde acontece o processamento e a distribuição para consumo.

Com essa política de sistema de armazenagem, os agricultores norte-americanos desenvolveram sua própria cultura, aumentando o número de unidades de armazenagem, podendo, atualmente, armazenar pelo menos metade e meia a mais da safra colhida a cada ano.

Com essa situação, os Estados Unidos não possuem qualquer problema no seu sistema de armazenagem, enquanto que, no Brasil, de acordo com a Conab, temos uma capacidade de sistema de armazenagem para 138 milhões de toneladas de grãos. A safra brasileira está ultrapassando 160 milhões de toneladas todos os anos, o que nos deixa com uma defasagem de praticamente 22 milhões de toneladas que, não tendo onde ficarem armazenadas, devem usar o sistema de armazenagem rodoviário, indo direto para os portos e centros de processamento.

Falta de sistema de armazenagem: um problema a ser resolvido

Sem um sistema de armazenagem, a produção agrícola sobrecarrega as estradas, aumenta o custo de produção, aumentam os riscos de acidentes, sobrecarrega a estrutura portuária (já precária) e eleva-se o valor de fretes, com os anuais reajustes de pedágio.

O sistema de armazenagem no Brasil tem sido discutido por várias décadas, passando de governo a governo, porém sem uma solução definitiva. O sistema de armazenagem é apenas um retrato, um raio X de um corpo que está se mostrando doente e precisando de sérios cuidados, de um tratamento que deve passar pelo momento da colheita e chegar aos portos e centros de processamento, como uma rede sanguínea num organismo vivo.

Se o Brasil não contasse com empresas capacitadas para criar silos e armazéns dentro das necessidades de sua produção, poderia até haver uma boa desculpa. Mas temos boas empresas, que podem trabalhar para melhorar o sistema de armazenagem, da mesma forma como trabalham para as indústrias e para o comércio. E não falta vontade às empresas para o trabalho: faltam recursos ao governo para que hajam ações voltadas para o estabelecimento de um sistema de armazenagem digno da produção nacional.

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